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Benjamin Péret ~ O Quilombo de Palmares


revisão de Júlio Henriques
prefácio de Ruy Coelho
direcção gráfica de João Bicker
Fenda 1988


Os primeiros negros instalados nos Palmares devem ter lavrado a terra em comum. A necessidade de fazer face a um afluxo constante de fugitivos obrigava esses primeiros cultivadores a colectivizar os recursos do mocambo. Os brancos não cessaram, durante cinquenta anos pelo menos, de destruir as colheitas dos negros, a fim de os reduzir pela fome e de abater a sua combatividade. Porém, essas incursões repetidas não podiam ter outra consequência senão aumentar a solidadiedade interna de cada mocambo e de toda a população dos Palmares. Imaginemos, com efeito, que as culturas de um mocambo tenham sido devastadas. Como admitir por um instante que o quilombo vai abandonar os habitantes do povoado sacrificado? Seria enfraquecer duplamente o conjunto dos Palmares: em primeiro lugar porque a aldeia abandonada à sua sorte se tornaria incapaz de sustentar um novo assalto dos brancos. Antes de ser reduzido a tal extremo, esse mocambo tentaria aliás uma expedição contra os brancos, cujo resultado - fora as vantagens que os assaltantes dela pudessem tirar - seriam novas represálias dos brancos, que não atingiriam forçosamente o mocambo assaltante. E não é só. Essa ausência de solidariedade revelaria uma falta de previdência, pois a desgraça que atingiria essa aldeia poderia atingir outra no dia seguinte. Os brancos não teriam mais do que atacar cada povoado isoladamente para vencer com segurança e em pouco tempo. Ora, sabemos que foram precisos cinquenta anos para destruir os Palmares.