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Blaise Pascal ~ Discurso sobre as paixões do amor


tradução de Miguel Serras Pereira
posfácio de José Manuel Heleno
design de João Bicker
Fenda, 2006

O homem nasceu para o prazer: sente-o, não há necessidade de outra prova. Segue pois a sua razão ao dar-se ao prazer. Mas muito amiúde sente a paixão no seu coração sem saber por onde terá ela começado.
Um prazer verdadeiro ou falso pode preencher de igual maneira o espírito; pois que importa que esse prazer seja falso, contando que estejamos persuadidos de que é verdadeiro?
(...)
Em amor um silêncio vale mais do que uma linguagem. É bom ficarmos interditos; há uma eloquência de silêncio que penetra mais do que saberia fazê-lo uma língua.
(...)
Tiraram a despropósito o nome da razão ao amor, e opuseram-nos sem bom fundamento, porque o amor e a razão não são mais do que uma e a mesma coisa. É uma precipitação de pensamentos que se inclina para um lado sem bem examinar todas as coisas, mas é sempre uma razão, e não devemos nem podemos desejar que seja de outro modo, porque seríamos então máquinas muito desagradáveis. Não excluamos pois a razão do amor, uma vez que ela é dele inseparável.