...editora fenda... fenda edições, 30 anos no arame

Joëlle Ghazarian ~ Ó de Amoque


tradução de Júlio Henriques
capa de João Bicker sobre ilustração de Hans Bellmer
colecção fósforo 2
Fenda, 1995
[600 ex]


Como mudar de ritmo? Como chegar a isto: não se ser possuído pelo tédio, não mergulhar na sua vastidão? Amoque é virgem; nunca ninguém nela penetrou. Ó é um velho prostituto ainda bastante jovem para ser amante pago. Como o não pode ser com Amoque, a quem o sistema parece tentador mas excessivamente fácil («deitaremos mão a isso se não houver mais nada»), ele procura assim não se tornar homem travestido para mulher homossexual, para cuja pele se lhe afigura que ela o empurra; defende-se do transtorno que em si mora fazendo-o caricatura.
Fingir que não se finge, a fim de que os outros nos possam achar credíveis. Amoque e Ó, todavia, expõem-se a modelar os instrumentos da sua própria anulação; dois autores que se multipliquem em equívocos acabam por chegar ao esgotamento. Porém cientemente se esmeram com vista a livrarem-se , na ideia e no acto, das repetições escusadas, substituindo-as pelos sabores duma curiosidade motriz. Buscam em seu próprio engenho para conseguirem, não aquilo que teriam podido ser, mas o que estão já em condições de devir; prazer e bondade custam isso.