...editora fenda... fenda edições, 30 anos no arame

Alface ~ Uma mãe porreira é prá vida inteira


ilustrações de Pedro Proença
desenho gráfico de João Bicker
Fenda das raparigas, 3
1ªed, Fenda, 1998
1ªed, Fenda, 1999
1ªed, Fenda , 2001
[1000 ex]


A vida corria-lhes sem nada de especial a assinalar, os gémeos governando a casa e o pai mudando pendularmente de emprego. É sabido que tinha grande dificuldade em aquecer qualquer lugar que aparecesse. Não por inadaptação, indolência ou arestas de carácter, mas por ser incapaz de controlar a respectiva estatura. Dando azo (argumentavam os patrões) à risota desenfreada dos colegas. E a produtividade ressentia-se, diziam-lhe (com uma palmadinha nas costas).
O problema só normalizou, mais ou menos, quando o sr. Branco encontrou aquele que viria a ser o seu filho mais novo, Nino. Por mero acaso, num caixote de lixo. O pimpolho ignorava como fora parar ao lixo e também se lhe tinham varrido da memória as noções mínimas de vocabulário. Talvez não fosse, tecnicamente, mudo. Mas lá que não dava uma para a caixa, isso é que não dava.
Só bastante mais tarde, quando Nino começou a mostrar as suas habilidades (transformar-se em todo e qualquer tipo de objecto esférico) é que os irmãos lhe deram o devido valor e ele se pôs a falar.
O pai, pelo contrário, engraçou com o gordinho desde que o viu e ficaram pela vida fora os melhores amigos do mundo. Partilhando, nomeadamente, palpitantes aventuras em busca do sustento para o agregado familiar.
Foi ainda por essa ocasião que deram em mudar de terra em terra, adoptando como programa de acção o lema "parar é morrer".