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Alface ~ A prima fica por cima


ilustrações de Pedro Proença
desenho gráfico de João Bicker|FBA
Fenda das raparigas, 11
Fenda, 2001
[1100 ex]


Seria talvez de bom tempo 1 explicação. Como quase sempre.
Ala explicou à família, naquele seu invertido jeito aristocrático, que vinha passar uns tempos com eles por especial deferência pela avó Rosa (Cf. Avó não pise...).
A saudosa velhota vendera-lhe a teoria que 1 presença feminina iluminaria aquelas criaturas. A serigaita da neta faria o serviço a contento, achava a velha.
Para a jovem Ala foi mudança mesmo a calhar pois os pais acabavam de expulsá-la definitivamente de casa. Sem apelo nem agravo. Rua! Vá lá saber-se porquê.
Vitório Branco concordou que aquele seu irmão (cuja existência havia esquecido) exibia maus fígados, mas daí a correr com uma filha de tenra idade vai uma certa distância.
Ou não?
Os gémeos condoeram-se com a infelicidade da prima e apenas Nino se manteve insensível às desgraças que ela deu de desfiar: mendiga por conta de um cartel de pedintes cariocas, menina-bala num circo ambulante russo, major do exército infantil tailandês e por aí fora. Tretas à dúzia que a família Branco engolia embasbacada.
Pobre priminha! ecoaram gémeos & pai, enquanto Nino se levantava. Vou dormir. E lá foi.
Vexada pelo desinteresse do gordo, a bela Ala não pôde impedir-se de ficar logo apaixonada por ele, provocando na vivenda 1 fulminante ataque de ciúmes que até fez cair a pintura toda do tecto.